Samarone Lima
Livros
O ELEFANTE AZUL - CRÔNICAS DAS COISAS MÍNIMAS E DESNECESSÁRIAS
"Algumas pessoas mais chegadas me saíram com essa. Era uma história de que eu tinha um menino, lá em casa, ele ficava debaixo da escada espiralada que leva para o primeiro andar. Em alguns momentos, alguns dias específicos, o menino aproveitava que eu estava dormindo, subia, ligava o computador e escrevia em meu lugar. Os melhores textos, portanto, os mais delicados, penso, seriam do tal menino, ou o Menino Tao, se for o caso. Estou começando a achar que é verdade. Nunca o vejo direito, mas penso que ele existe. Às vezes, quando abro a porta bruscamente, sei que ele conseguiu ficar quietinho, sem respirar muito, para que eu não o veja. Entre nós, portanto, vem surgindo uma cumplicidade de presença e ausência, e já nem reclamo quando ele escreve no meu lugar. No fundo, é bom ter alguém para escrever no lugar da gente, quando falta algo para dizer."
Disponivel com o autor ou pela editora Confraria do Vento.
Em Cemitérios clandestinos, Samarone Lima continua a percorrer o trajeto singular da sua poesia. Se as "lágrimas hereditárias" foram o ponto central de livros anteriores, aqui vemos um poeta diante das questões do hoje, ainda que sem imediatismo e sem palavras de ordem já prontas. É um livro íntimo e coletivo de um autor que se entende à mercê do seu próprio tempo, enquanto o combate com a própria criação.
O céu nas mãos é o quinto livro de poemas de Samarone Lima. Este carrega consigo a chama da resistência literária em uma época de imediatismo e pouco tempo para a leitura. Cada poema nestas páginas fala da essencial arte de comunicar duas almas pela palavra e suas entrelinhas.
A Invenção do Deserto traz três partes: os poemas das margens, os poemas dedicados e os poemas acontecidos. A primeira, maior, trabalha essa reinvenção dos sentimentos, da vida que nos cerca e mesmo do presente. A literatura, ainda que fiel a sensações e eventos, é sempre uma forma de recriação, uma ampliação e redução simultânea do poder do que de fato aconteceu. Isso vale mesmo quando se escreve sobre a memória: Samarone é fiel não ao passado da sua família, mas à mitologia que ouviu e criou sobre tudo aquilo, à imagem poética que pôde tirar daquilo.
Infância, morte, tempo, efemeridade da vida. São temas caros à poesia e que geralmente retornam mesmo quando o gênero maior almeja outros voos. Entretanto, não são fáceis de serem trabalhos sem se cair nas armadilhas do clichê e do requentado, temas que só perdem para o tão caro e evitado amor. Samarone Lima, porém, salvaguarda-se desses riscos pisando com determinação e ousadia esses mesmos campos.
Não é atoa que seu livro O aquário desenterrado (Confraria do Vento, 2013), venceu os prêmios Biblioteca Nacional e Brasília de Literatura no ano seguinte. A memória, desenterrada na idade adulta, é o fio condutor de boa parte do livro. Como o próprio autor diz, uma diáspora íntima lhe marca os passos, um migrar-se e imigrar em si mesmo constante em toda a vida.
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No ano em que a Revolução Cubana completa 50 anos, o jornalista Samarone Lima viajou ao país, onde ficou um mês. Neste período, se hospedou nas casas mais simples, distante dos hotéis badalados e dos programas típicos do turismo. Viveu o cotidiano dos pobres, conheceu de perto o mercado negro, acompanhou a luta diária por comida, as frustrações, proibições e impasses, quando Fidel Castro ainda era comandante-em-chefe. Ao retornar ao Brasil, trouxe na bagagem vários cadernos de anotações, com tudo o que viu e escutou. 'Viagem ao Crepúsculo', escrito como um diário de viagem, leva o leitor a um passeio pelas ruas de Havana e do interior do País. Um relato do que restou da revolução e dos sonhos de muitas gerações.
Relata a história do Clamor, grupo de conspiração brasileira fundado nos anos 70 para lutar contra o regime de opressão militar na defesa dos direitos humanos que ajudou a localizar ciranças cesaparecidas, filhos ce militrantes políticos que tinham sido mortos, ou perseguidos na Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai.
Um Zé contra a ditadura No livro-reportagem Zé, o jornalista Samarone Lima registra a trajetória do mineiro José Carlos Novais da Mata Machado, militante do Ação Popular que foi preso, torturado e assassinado pelos militares no Doi-Codi do Recife em 1973. A narrativa contempla desde o encontro dos pais de José Carlos (o professor Edgard Godói da Mata-Machado e Yedda Santos Novais) até a sua prisão e a luta judicial da família para poder enterrar o seu corpo. Pelo fato de ser filho de um deputado federal com mandato cassado depois do AI-5, por conta do seu envolvimento com a política estudantil e pelas coincidências históricas; a vida de José Carlos se revela uma interessante perspectiva para a observação das sombras projetadas pelo golpe militar no Brasil em 1964. Afinal, nesse mesmo ano, José Carlos entrava para a Faculdade de Direito da UFMG, onde formou o Grêmio dos Alunos da Turma de 1964 (GAT-64) e logo se alinhou à Ação Popular, organização criada na Juventude Universitária Católica em 1962 e que vinha se afirmando como uma das principais potências do movimento estudantil, elegendo três presidentes consecutivos na UNE nos anos 1960. Enquanto temos acesso a fatos da vida particular de José Carlos, como a relação familiar, o desempenho escolar no Colégio Dom Silvério, seu interesse pelas técnicas de guerrilha durante o serviço militar no CPOR e as confrarias no restaurante do Albamar com os colegas da Faculdade de Direito na UFMG; no pano de fundo o desenrolar do golpe, com a instauração da censura, o fechamento do Congresso Nacional, a cassação dos deputados e a instauração do AI-5, com prisões e práticas de tortura e assassinatos. Seguindo a ordem cronológica (só desvirtuada no primeiro capítulo que funciona como um prólogo), nessa costura proporcionada pela vida de José Carlos e os rumos da ditadura, Samarone Lima registra fatos históricos importantes para o país, a exemplo da passeata em Belo Horizonte motivada pela morte do estudante Edson Luís no Rio de Janeiro (quando José Carlos foi preso pela primeira vez) e do desastroso Congresso da UNE em Ibiúna (interior de São Paulo), que resultou na segunda prisão de Zé e mais cerca de mil estudantes. Nesse trajeto biográfico ainda é possível observar como ocorriam as articulações políticas, as estratégias de atuação dos militantes e dos militares, as dificuldades nos anos de clandestinidade quando José Carlos chegou a passar fome em Fortaleza, o espírito de solidariedade da época, os sopros do desbunde do grupo de estudantes de medicina Universidade Livre que acolheu o militante em Recife e das práticas de ameaça, tortura e ocultamento de cadáver do regime militar. Preso pela última vez em 1973 em São Paulo – por conta de Gilberto Prata (irmão de Madalena e cunhado de José Carlos), que após ser preso e ameaçado passou a trabalhar para os militares na perseguição aos líderes da Ação Popular – José Carlos foi torturado até a morte no Doi-Codi do Recife. Sua morte foi divulgada pelos militares como um suposto assassinato por um colega de José Carlos, que logo se revelou uma grande mentira no confronto com os relatos de tortura no Doi-Codi, os indícios de violência no corpo (com dedos quebrados e ausência de coro cabeludo) do militante mineiro e da ausência de testemunha sobre o fantasioso crime que teria ocorrido na Avenida Caxangá. No entanto, o mérito pela pesquisa e pela importância do registro histórico não se estende às escolhas de Samarone Lima na hora de narrar essa história. Embora tenha cumprido o seu papel de jornalista registrando a trajetória de José Carlos e o momento político conturbado do Brasil; a supressão de detalhes, investidas psicológicas e descrições tornam os acontecimentos narrados distantes do leitor. Com exceção dos momentos de fuga e da prisão de José Carlos, onde a tensão natural desses fatos e indignação gerada pelos abusos dos militares provocam catarse; a impressão é que estamos lendo um relatório ou um resumo biográfico do militante mineiro. Uma coisa é dizer o que aconteceu, outra é mostrar como ocorreu, transmitindo sentimento e emoção. Outro problema de ordem estética que observei no livro foi o excesso de redundância. Há casos em que a narração do autor diz uma coisa e logo em seguida, quando se abre o travessão para indicar a fala de algum personagem, lê-se exatamente a mesma informação, sem qualquer acréscimo de conteúdo. Em termos de conteúdo, talvez por alguma dificuldade na apuração, não fica claro como era a atuação de José Carlos na Ação Popular. Apesar da sua importância ser comprovada pelos cargos de vice-presidente da UNE e de dirigente nacional da Ação Popular, os relatos do livro revelam apenas serviço burocrático por parte de José Carlos, com reuniões e mais reuniões. Um fato que entra em contradição com outras passagens do próprio livro, numa das falas de Márcio Borges, recordando conversas com o Zé: “ele nos narrou sua odisseia desde os dias em que entrara para a clandestinidade, embrenhara pelo sertão brasileiro, tornara-se guerrilheiro. Falou de ataques a napalm, comunidades rurais liberadas, milícias populares” (p. 167). Mas o fato é que a história de José Carlos Novais da Mata Machado é tão forte e simbólica que esses problemas de ordem estética não inviabilizam nem desmerecem a leitura de Zé. Pelo contrário, neste ano em que se relembra os 50 anos do golpe militar no Brasil, a leitura do livro Zé deve ser incentivada, tanto para mostrar a importância das conquistas democráticas alcançadas pelo Brasil como para evidenciar problemas que o país infelizmente ainda não superou, como as práticas militares de execução, tortura, difusão de mentiras e ocultamento de cadáver que agora assistimos por parte da polícia. Thiago Corrêa
A obra, publicada pela Livro Rápido, reúne a maior parte das crônicas que o jornalista escreveu neste JC OnLine, entre junho de 2004 e de 2005, semanalmente, na coluna Estuário.
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Trilogia das Cores, série de três livros que apresentam uma seleção das melhores crônicas do Blog do Santinha, um site esportivo organizado e escrito pelos jornalistas Samarone Lima e Inácio França.